Alagamentos, enxurradas e transtornos nas ruas são consequências conhecidas de um problema frequente em várias regiões: o entupimento dos bueiros. Embora o senso comum possa apontar para a população e seu descarte incorreto de lixo, atribuir a culpa exclusivamente aos cidadãos é, no mínimo, uma simplificação equivocada. A responsabilidade central por essa situação cabe ao poder público, que tem a missão de garantir uma infraestrutura urbana adequada, capaz de enfrentar as chuvas e proteger a população dos riscos associados a sistemas de drenagem precários.
Em qualquer cidade bem administrada, a limpeza e manutenção dos bueiros deveria ser uma prioridade constante. No Distrito Federal, essa missão cabe a órgãos como o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e as Administrações Regionais. Cada um desses órgãos tem papéis fundamentais, seja na coleta de resíduos e conscientização ambiental, seja na execução direta de serviços de limpeza e manutenção preventiva das redes de drenagem. Mesmo com a atuação desses órgãos, a realidade mostra que o planejamento e a fiscalização ainda são insuficientes para conter os alagamentos, especialmente em períodos de chuva intensa.
Brasília já demonstrou, com o exemplo das faixas de pedestres, que é possível promover uma mudança cultural no comportamento coletivo quando o poder público lidera o processo. A campanha de respeito à faixa de pedestres foi um marco para o Distrito Federal, e hoje, pelo menos no Plano Piloto, pedestres e motoristas convivem de maneira segura e organizada. Isso prova que, com investimento em educação, campanhas consistentes e fiscalização, a população pode adotar comportamentos mais conscientes e responsáveis.
Se conseguimos instaurar uma cultura de respeito às faixas de pedestres, também somos capazes de implementar uma educação sólida para o descarte correto de lixo e o cuidado com o meio ambiente urbano. Porém, essa mudança de hábito só acontecerá de maneira efetiva se o poder público assumir seu papel de liderança nesse movimento, com programas educativos, infraestrutura adequada e fiscalização constante.
A situação atual indica uma falha de gestão. A ausência de políticas públicas eficazes para fiscalizar o descarte irregular e para educar a população sobre os cuidados com o lixo reflete diretamente nos bueiros entupidos. Em vez de campanhas ocasionais, precisamos de um programa sistemático que integre conscientização, infraestrutura e monitoramento contínuo. A população tem seu papel, sim, mas a responsabilidade de liderar essa frente é, antes de tudo, do poder público, que deve garantir os serviços de coleta de lixo eficientes e um sistema de drenagem bem planejado e limpo.
Enquanto houver negligência por parte dos gestores públicos, alagamentos serão uma rotina. Colocar a culpa apenas na população é, além de uma injustiça, uma manobra para desviar o foco do real problema: a falta de uma gestão que priorize a segurança e o bem-estar da sociedade.